O TRIUNFO DE BACO TEMÁTICA Conhecido popularmente como Os Borrachos, esta tela é a obra velasquenha mais destacada da década dos vinte. Pertence à etapa juvenil do pintor. Baco aparece rodeado de toda uma corte de bêbados aos quais coroa e oferece vinho, à sombra de uma parreira. O jovem deus mostra um ventre inchado. Seus "súditos" parecem extraídos de um romance "picaresco", gênero literário muito estendido na Espanha dos séculos XVI e XVII. O artista combinou um tema mitológico com motivos pertencentes a seus bodegões iniciais. Os tipos populares e os objetos que se encontram aos pés de Baco conservam uma afinidade extraordinária com os que aparecem nas cenas de taverna que o pintor executou naqueles anos. Seu autor descreve um ambiente pleno de sensualidade e imediatismo. A combinação de motivos tão díspares constituía algo insólito no panorama pictórico que rodeava o sevilhano. Esta tela alcançou uma notável popularidade entre os artistas do século XIX. Prova disso é sua reprodução num retrato de Zola, pintado por Manet. O francês era um grande admirador de Velásquez. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA A composição deste quadro mostra uma acentuada horizontalidade. Os personagens se dispõem em torno do deus de uma forma um pouco desordenada e confusa. Confuso é também o cenário no qual se desenvolve a ação. Os personagens inundam a tela. A escassa vegetação é o único indício do cenário natural. O modelado das figuras é cuidadoso e preciso. Mantém certas conotações de corte escultórico. A mesma coisa sucedia nas suas naturezas-mortas, com as quais este trabalho mantém uma relação especial. O artista representa com o mesmo esmero, homens e objetos. A importância que ele concede a estes últimos fica patente na posição que ocupam dentro da tela. Velásquez os pintou num plano diferente ao das figuras. Ele prefere para eles um ponto de vista mais elevado, recriando-se na sua execução. A iluminação está encaminhada fundamentalmente a ressaltar o corpo de Baco. Seu tratamento é de certo ar caravaggista. Pardos e marrons dominam a gama cromática à maneira de suas pinturas de assuntos populares. INTERPRETAÇÃO É uma das representações de Velásquez mais conhecidas pelo público. A técnica empregada na sua realização denota a juventude do mestre. A composição possui certas notas que resta coesão e soltura à obra. Esse é o caso da utilização de dois planos diferentes para figuras e para objetos. A mesma coisa acontece com o aspecto escultórico dos personagens e com a imprecisão do cenário. Por outra parte, há que se destacar o espírito audaz e inovador do autor. A combinação de um assunto mitológico com motivos pertencentes à natureza-morta é insólita na pintura espanhola da época. Este gênero pictórico é introduzido no reino de Filipe IV por aqueles anos e pela mão de seu futuro Pintor de Câmara. Outro traço a destacar é a vulgarização de um assunto que, em princípio, pertenceria á esfera de uma temática que exigia certa classe de decoro. O sevilhano o entende de uma forma imediata, popular e dinâmica. Afasta-se da dignidade e do distanciamento classicista, configurando uma imagem substancialmente diferente e revolucionária.